Times brasileiros já pensam numa Liga de Futebol independente da desorganizada CBF.
| Reunião de diretores de clubes brasileiro com La Liga e XP/ Foto: Vivian Koblinsky/XP |
Ao se apresentar aos clubes brasileiros, o
presidente da La Liga, Javier Tebas, ressaltou a necessidade de uma Liga ter
controle financeiro dos clubes. A Codajas Sports Kapital, outra empresa que se
propõe a desenvolver a Liga, também prevê um Fair Play financeiro no modelo
para a Liga do Brasileiro. Por que é importante ter regras para finanças dos
times na organização do Brasileiro? Bem, o objetivo das três propostas
apresentadas aos clubes — La Liga/Alvarez & Marsal; Codajas/BTG; e
LiveMode/1190— é negociar uma parte do capital da futura Liga com um
investidor. Assim, haverá uma captação de dinheiro adiantado para os times em
troca de parte das receitas futuras.
Mas todos os grupos buscam investidores no exterior, principalmente em fundos dos EUA e da Europa. Há fundos especializados neste tipo de aquisição como o CVC que comprou parte da La Liga. O percentual a ser comprado pode girar entre 8% e 25% a depender da proposta. Com esse modelo, os investidores seriam sócios dos clubes na Liga. Ora, para se associarem a algum parceiro, fundos têm que verificar a situação financeira dos clubes, assim como fazem aqueles que compram SAFs (Sociedade Anônima Financeira) de clubes no Brasil.
O endividamento excessivo de sócios pode comprometer a Liga e o próprio
negócio, já que as receitas seriam drenadas para as dívidas. Então, o nível de
organização financeira dos clubes terá credibilidade para se chegar a um
sócio/investidor para a Liga. Há clubes brasileiros com dívidas altas —bem
acima de suas receitas anuais— e esse problema terá de ser resolvido para
viabilizar a Liga. Além disso, terá de se criar limites de gastos para que
esses débitos não cresçam. Em alguns lugares da Europa, trabalha-se com o
limite de 70% de gastos no futebol em relação à receita. Mas, no caso de times
mais endividados, esse percentual pode ser ainda menor. La Liga determina
limites para gastos de clubes de acordo com suas contas.
Além disso, na Espanha, o dinheiro recebido pelos
clubes por causa da venda de parte da Liga —que foi rechaçada por Barcelona e
Real Madrid— tem uma parte com destinação obrigatória. É preciso gastar com
infraestrutura, pagamento de dívidas ou em investimento em marketing. São itens
que ajudam o desenvolvimento da Liga a longo prazo. Só 30% desse capital é
livre para os clubes. Há um consenso entre quem desenvolve o projeto da Liga
que terá de haver uma espécie de transição para se estabelecer regras de
controle rígidas sobre os clubes. Mas clubes endividados terão de se
comprometer com planos a longo prazo para solucionar seus débitos.
O modelo está longe da perfeição. O fracasso
financeiro do Barcelona, que chegou a uma dívida de mais de 1 bilhão de euros,
ocorreu já no período em que a La Liga controlava os clubes. Mas não há outro
jeito de organizar um campeonato e atrair dinheiro de investidores se não for
arrumando a casa dos sócios, isto é, os times do Brasil.
Por Rodrigo Matos, colunista UOL
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