quarta-feira, 23 de março de 2022

Ranking revela desigualdade do saneamento básico no país

Nas cidades com piores condições, a média é de R$ 48. Nas últimas colocações, há nove capitais, todas das regiões Norte e Nordeste.


Esgota a céu aberto em Santarém/Foto: G1 Santarém


No Dia Mundial da Água, um ranking revelou a desigualdade do saneamento básico no Brasil e como isso tem impacto direto na vida das pessoas.

Um rio que não é saudável deixa doente quem mora perto, e é uma vizinhança imensa. Cem milhões de brasileiros vivem sem coleta de esgoto, segundo um estudo do Instituto Trata Brasil, feito com dados do Ministério do Desenvolvimento Regional. E, na conta oficial, nem sempre entra quem vive em condições precárias, em invasões.

O cômodo que a catadora Adriana dos Anjos Silva divide com mais quatro pessoas na Comunidade de Heliópolis, em São Paulo, fica à beira do córrego. É para onde vai a água suja do banheiro e da pia.

“Barata, rato: é oque mais tem. Ainda mais em tempo de calor aqui. Você tem que ver como fede. Isso aqui, em tempo de calor, a gente não aguenta. A gente geralmente vê as crianças todas passando mal”, conta.

E, segundo o levantamento, só metade do esgoto que é coletado no país é tratada. Da análise das condições de saneamento nas 100 cidades mais populosas do Brasil, saiu um ranking com as 20 melhores e as 20 piores.

Nas primeiras posições, predominam as cidades do Sudeste e Sul do país: SantosUberlândiaSão José dos PinhaisSão Paulo e Franca encabeçam a lista.

Nas últimas colocações, há nove capitais, todas das regiões Norte e Nordeste. Os piores municípios do Brasil em saneamento são: MacapáPorto VelhoSantarémRio Branco e Belém.

Na capital do Pará, moradores do bairro da Terra Firme convivem há décadas com o esgoto que não é tratado. A prefeitura diz que vai marcar uma visita técnica, mas, enquanto isso, buracos, poças, lama e alagamentos impedem que moradores saiam de casa. Isso quando não perdem tudo.

“Teve uma vez que eu cheguei aqui, a água entrou. Foi mesa, foi cadeira, foi tudinho. Foi tudo jogado fora”, relembra o aposentado José Maria.

Os dados do ranking refletem a desigualdade econômica dentro do Brasil. O estudo mostrou que as cidades mais adiantadas na solução dos problemas de saneamento foram as que mais investiram.

Até aí, nenhuma surpresa. O que chamou mesmo a atenção de quem fez a pesquisa foi a diferença de valor. Os municípios em melhor situação investiram, em média, R$ 135 por habitante. Já nas cidades com piores condições, a média foi de R$ 48.

A presidente-executiva do Trata Brasil, Luana Pretto, diz que políticas de saneamento precisam ter prioridade.

“O saneamento básico está relacionado diretamente com saúde da população. E, ao mesmo tempo, quando se investe em saneamento básico, há o desenvolvimento daquela região, o melhor turismo, melhor valorização imobiliária, e todos os benefícios que vêm com a instalação desse serviço que o próprio nome já diz, é básico”, afirma.

Marco Legal do Saneamento Básico estipulou como meta universalizar os serviços até 2033.

O coordenador do Centro de Estudos de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV, Gesner Oliveira, diz que a legislação pode impulsionar soluções: “Você estimula a concorrência e, naturalmente, os contratos também vão ter metas específicas. Agora, não é um processo da noite para o dia, porque só para construir uma estação de tratamento de esgoto, por exemplo, dependendo do tamanho, são dois, três anos”.

É muito tempo de espera por algo essencial. “É tudo. Sem água, nós não somos nada. Porque a gente tem que comer, tem que se alimentar, tomar banho. É isso”, enfatiza a catadora de Heliópolis.


Fonte: G1

Nenhum comentário:

Postar um comentário