Nas cidades com piores condições, a média é de R$ 48. Nas últimas colocações, há nove capitais, todas das regiões Norte e Nordeste.
Esgota a céu aberto em Santarém/Foto: G1 Santarém
No Dia Mundial da Água, um ranking revelou a desigualdade do saneamento básico no Brasil e como isso tem impacto direto na vida das pessoas.
Um rio que não é saudável deixa doente quem mora perto, e é uma vizinhança imensa. Cem milhões de brasileiros vivem sem coleta de esgoto, segundo um estudo do Instituto Trata Brasil, feito com dados do Ministério do Desenvolvimento Regional. E, na conta oficial, nem sempre entra quem vive em condições precárias, em invasões.
O cômodo que a catadora Adriana dos Anjos Silva divide com mais quatro pessoas na Comunidade de Heliópolis, em São Paulo, fica à beira do córrego. É para onde vai a água suja do banheiro e da pia.
“Barata, rato: é oque
mais tem. Ainda mais em tempo de calor aqui. Você tem que ver como fede. Isso
aqui, em tempo de calor, a gente não aguenta. A gente geralmente vê as crianças
todas passando mal”, conta.
E, segundo o levantamento, só metade do esgoto que é coletado no país
é tratada. Da análise das condições de saneamento nas 100 cidades
mais populosas do Brasil, saiu um ranking com as 20
melhores e as 20 piores.
Nas primeiras posições,
predominam as cidades do Sudeste e Sul do país: Santos, Uberlândia, São José dos Pinhais, São Paulo e Franca encabeçam
a lista.
Nas últimas colocações,
há nove capitais, todas das regiões Norte e Nordeste. Os piores municípios do
Brasil em saneamento são: Macapá, Porto Velho, Santarém, Rio Branco e Belém.
Na capital do Pará,
moradores do bairro da Terra Firme convivem há décadas com o esgoto que não é
tratado. A prefeitura diz que vai marcar uma visita técnica, mas, enquanto
isso, buracos, poças, lama e alagamentos impedem que moradores saiam de casa.
Isso quando não perdem tudo.
“Teve uma vez que eu
cheguei aqui, a água entrou. Foi mesa, foi cadeira, foi tudinho. Foi tudo
jogado fora”, relembra o aposentado José Maria.
Os dados do ranking refletem a
desigualdade econômica dentro do Brasil. O estudo mostrou que as cidades mais
adiantadas na solução dos problemas de saneamento foram as que mais investiram.
Até aí, nenhuma surpresa.
O que chamou mesmo a atenção de quem fez a pesquisa foi a diferença de
valor. Os municípios em melhor situação investiram, em média, R$ 135 por
habitante. Já nas cidades com piores condições, a média foi de R$ 48.
A presidente-executiva do
Trata Brasil, Luana Pretto, diz que políticas de saneamento precisam ter prioridade.
“O saneamento básico está
relacionado diretamente com saúde da população. E, ao mesmo tempo, quando se
investe em saneamento básico, há o desenvolvimento daquela região, o melhor
turismo, melhor valorização imobiliária, e todos os benefícios que vêm com a
instalação desse serviço que o próprio nome já diz, é básico”, afirma.
O Marco Legal do Saneamento
Básico estipulou como meta universalizar os serviços até 2033.
O coordenador do Centro
de Estudos de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV, Gesner Oliveira, diz
que a legislação pode impulsionar soluções: “Você estimula a concorrência e,
naturalmente, os contratos também vão ter metas específicas. Agora, não é um
processo da noite para o dia, porque só para construir uma estação de
tratamento de esgoto, por exemplo, dependendo do tamanho, são dois, três anos”.
É muito tempo de espera
por algo essencial. “É tudo. Sem água, nós não somos nada. Porque a gente tem
que comer, tem que se alimentar, tomar banho. É isso”, enfatiza a catadora de
Heliópolis.
Fonte: G1
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