quinta-feira, 28 de abril de 2022

Jovem morador de Alenquer é o primeiro homem trans no município a ter nome modificado na certidão de nascimento

Théo Lopes Ribeiro tem 25 anos e recebeu sua nova certidão no dia 19 de abril deste ano.

Theo Lopes Ribeiro/Arquivo pessoal


Você já parou pra pensar como é viver com medo de ser julgado, mas ao mesmo tempo estar cansado de sustentar uma vida que não é sua? Esse sentimento acompanhou Théo Lopes Ribeiro por muitos anos, até o dia em que ele finalmente decidiu encarar seus receios e buscar a tão sonhada liberdade. E essa liberdade perpassa pela modificação do nome e gênero na certidão de nascimento, que ele obteve no dia 19 de abril deste ano.

Natural de Santarém, Oeste do Pará, Théo tem 25 anos e mora em Alenquer desde os 19 anos de idade. Atualmente ele é proprietário de uma hamburgueria e iniciou sua independência financeira ainda muito jovem. 

Ele conta que desde os 12 anos gostou de usar os cabelos curtos, e queria vestir roupas masculinas. Porém, sendo criado em um lar extremamente religioso, ele enxergava suas vontades como um pecado. O jovem tinha medo de como seus pais iriam reagir a isso.

“Eu chorava sozinho e não conseguia entender porque eu tinha um pensamento de ser menino e estar num corpo de menina, era conturbado”, contou.

Aos 15 anos de idade, Théo começou a sentir atração por meninas. Ele relata que as garotas tinham seus "namoradinhos imaginários" e ele não. Aos 16 anos, se envolveu pela primeira vez com uma menina, passou a usar roupas masculinas e assumiu sua orientação sexual para a família.

“Eu comecei a ser independente, porque dentro da casa dos meus pais ficaria muito mais complicado, trabalhei, morei sozinho”, explicou o jovem.

O processo de mudança

Théo relata que aos 17 anos estava em uma banca de jornal, onde encontrou uma revista que tinha uma reportagem sobre um homem trans chamado Tarso Brant. Ele ficou curioso e começou a pesquisar mais a fundo sobre os homens transicionados.

“Eu fiquei lendo toda sua trajetória e eu falei pra mim mesmo é isso que eu sou, é isso que sempre fui, eu quero ter barba, eu quero ser tratado no masculino. Comecei a pesquisar sobre como eles começavam a hormonização, sobre o processo como um todo”.

Os anos foram passando e ele precisou esperar por questões financeiras. Até que um dia Théo teve a oportunidade de iniciar a mudança, e começou a contatar homens trans de Santarém que ajudaram a sanar as suas dúvidas a respeito do processo.

O primeiro passo foi buscar um endocrinologista, fazer os exames e iniciar o tratamento hormonal com os remédios e o ciclo certo. O jovem começou o tratamento no dia 18 de novembro de 2021 e segue realizando o acompanhamento.

Retificação social

Théo Lopes entrou com o pedido de modificação de nome e gênero no dia 21 de fevereiro e recebeu a certidão no dia 19 de abril. Ele foi até o cartório mais próximo e solicitou os papéis para realizar a alteração do nome.

“Eu fui buscar informações para fazer minha troca de documentos. Ser chamado pelo nome 'morto' é algo que me afeta. Eu entendia que se as pessoas vissem que eu estou com meus documentos retificados elas teriam empatia e tratariam como eu gostaria de ser tratado”, explicou.

O jovem relata que toda solicitação foi feita por Santarém já que o documento de nascimento foi tirado em um cartório do município.

A mudança é um passo importante para levantar a causa das pessoas trans na região.

“Aos poucos a sociedade está nos enxergando, estamos em busca de nossos direitos como humanos, todos os dias reforçamos a nossa bandeira como representatividade e vamos manter nosso lugar dentro da sociedade reivindicando nossos direitos. Lutaremos juntos por mais inclusão social e respeito, desenvolvendo a empatia das pessoas para conosco, que eles saibam que cada um de nós somos quem queremos ser, onde, como e quando quisermos”, disse Théo.

Como funciona o processo?

É importante destacar que somente o prenome e o gênero podem ser alterados para a identidade auto percebida. Isso significa que o sobrenome deve permanecer o mesmo a fim de manter a identidade da família.

Além disso, a pessoa interessada deve expressar a sua vontade de realizar a alteração da identidade mediante a averbação do prenome, do gênero ou de ambos e declarar a inexistência de processo judicial que tenha por objeto a alteração pretendida.

Para a retificação realizada no cartório, o requerente deve ter 18 anos completos e ser capaz de praticar os atos da vida civil. O interessado deve apresentar os seus documentos pessoais originais.

Documentos obrigatórios

  • RG e CPF
  • Comprovante de endereço
  • Certidões negativas criminais e certidões cíveis estaduais e federais do local de residência dos últimos cinco anos
  • Certidão de Tabelionatos de Protestos do local de residência dos últimos cinco anos
  • Certidões da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Militar
  • Algumas taxas são pagas para a realização da retificação.

Para mais informações sobre esse serviço, consulte um oficial de Registro Civil de sua cidade.

Em Santarém, esse processo pode ser realizado através do Núcleo do programa Ministério Público e Comunidade, que fica no Teatro Victória localizado no centro da cidade. Os atendimentos são realizados de segunda a sexta-feira das 8h às 17h.


Fonte: G1 Santarém

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