domingo, 27 de fevereiro de 2022

Reserva Garimpeira do Tapajós: O garimpo artesanal deu lugar à mineração mecanizada

Por: José Maria Piteira

A Reserva Garimpeira do Tapajós (RGT) foi criada em 1983, pelo governo federal, voltada exclusivamente para atividades do garimpo tradicional, mas sem nenhum cuidado com o meio ambiente. Mas a alta produção abriu a ganância do grande capital e a mineração mecanizada foi ganhando terreno.


As primeiras ocorrências de ouro no Tapajós remontam ao longínquo 1959, em Itaituba. Era ouro aluvionar, que se acumula às margens dos rios e igarapés, trazido pela força das correntes dos cursos d’água, ou pelas enxurradas. Desde então, o mineral é produzido naquela região em volumes que dependem do vai e vem do produto na Bolsa de Valores. Era ouro, muito ouro, mas ninguém consegue ser preciso na quantificação, pois grande parte da produção era contrabandeada.

Nos anos 1980, era tamanho o volume de ouro produzido na reserva garimpeira que a Caixa Econômica Federal (CEF), responsável pela compra de toda a produção, mandou construir uma estrada para facilitar o escoamento do mineral. Ela ligava o garimpo do Creporizão ao distrito de Moraes Almeida, às margens da rodovia Santarém-Cuiabá (BR 163), com extensão de 192 km. Ela ganhou o nome de Transgarimpeira, mas o governo federal não deu a ela a bandeira BR. E assim ficou, sem pai nem mãe e pagã, e com os custos de manutenção bancados pela Prefeitura de Itaituba, até 2010.

Naquele ano, o governo estadual resolveu assumi-la como rodovia estadual, através da lei nº 7.385/2010, por iniciativa da então deputada Josefina Carmo. Em 1990, com a posse do então presidente Fernando Collor de Mello e a quebra da paridade da moeda brasileira com o dólar, a reserva garimpeira sofreu sua maior crise. Mas sobreviveu. Até então, prevalecia a extração tradicional do ouro, sem uso de maquinário pesado. Mas também isso mudou.



Em 13 de fevereiro de 2016, um decreto presidencial criou a Área de Proteção Ambiental (APA) Tapajós, com pouco mais de 2 milhões de hectares, que se sobrepõe parcialmente à área da reserva garimpeira. A APA é uma unidade de conservação constante do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc) e tem os objetivos básicos de proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Mas nada disso aconteceu.

A exploração garimpeira continuou de forma predatória e produzindo ouro, muito ouro, mas com uma novidade: o crescente uso de maquinário pesado, especialmente tratores de esteiras e pás carregadeiras (PC), bombas hidráulicas e explosivos. Em março de 2020, o Ministério Público Federal considerou que a área teria se tornado um polo de mineração ilegal, por parte de empresas particulares, mediante a proliferação indiscriminada de Permissões de Lavra Garimpeira por parte da Agência Nacional de Mineração (ANM).



Hoje, centenas de tratores e outras máquinas pesadas trabalham, dia e noite, em milhares de garimpos no vale do Tapajós. O MPF também recomendou a revisão dos limites da reserva. Mas nada disso aconteceu, e a produção artesanal segue em meio à predominância da mineração mecanizada e predatória.

Foi essa a realidade encontrada por agentes do Ibama, do ICMBio, da Polícia Federal e da Força Nacional, durante a Operação Caribe Amazônico, no período de 12 a 14 de fevereiro, dentro da Reserva Garimpeira do Tapajós.

 

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